DIÁRIO DE LISBOA - 5 DE MAIO DE 1954

Os Carrilhões de Mafra estão a ser restaurados e espera-se que «A Portuguesa» possa substituir o antigo «Hino da Carta»

Os famosos carrilhões dos relógios das torres do Convento de Mafra estão a beneficiar de importantes obras de restauro.
Trabalho difícil de executar, não só pela complexidade das máquinas, como pelas grandes dimensões e quantidade de peças que as compõem, foi dividido em varias fases, a primeira das quais constituída pelo restauro do teclado manual dos carrilhões Sul, com substituição de peças de ferro por peças de bronze, executada de 1950 a 1951. Seguidamente começaram as obras do carrilhão Norte – segunda fase dos trabalhos – com o arranjo das estantes musicais e suas ligações aos martelos dos sinos.

A terceira fase dos trabalhos – também já terminada – inclui o arranjo e colocação de todos os martelos nos sinos respectivos e substituição de alguns destes, que estavam em mau estado de conservação.
A quarta e ultima fase dos trabalhos de restauro será constituída pela gravação das musicas que foram escolhidas. Supõe-se que o « Hino da Carta » será substituído pela « Portuguesa ».

Não foi tarefa fácil a adjudicação dos trabalhos. Um artista português soube, pelos jornais, que uma equipa de técnicos franceses vinha a Portugal restaurar os carrilhões de Mafra.
Sentindo-se atingido no seu legitimo orgulho e também nos seus interesses, igualmente legítimos, pois mantinha uma industria de relojoaria monumental devidamente organizada, incluindo oficina e fundição, imediatamente se dirigiu á Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, no sentido de ser admitido a um concurso, em concorrência com os artistas estrangeiros. Aquela Direcção Geral remeteu a petição ao Ministério das Finanças, departamento que superintendia no assunto.
Como tivessem surgido duvidas sobre a competência do industrial português, propôs-se ele a construir um teclado eléctrico para ser submetido á experiência nos carrilhões de Mafra. A proposta foi aceite, e um concerto, então realizado, obteve êxito pleno.
Mesmo assim as obras não foram logo adjudicadas a artistas portugueses. Só depois de apreciadas todas as propostas, a industria nacional recebeu o cargo de efectuar os importantes e delicados trabalhos.

Um pouco de história ...

Nem todas as pessoas têm presente as características dos relógios de Mafra. São da ordem dórica. Os seus ponteiros medem 2,2 metros de comprimento e as letras 65 centímetros.
Os sinos da horas pesam, cada um, 11.750 quilos e têm o diâmetro de 2,53 metros por 2,4 metros de altura.
Na torre Norte, destacam-se os sinos «Bizarro», notável pela sua ressonância, que se ouve a quinze quilómetros de distância.
Aos carrilhões pertencem 48 sinos, que pesam de 10 mil a 30 mil quilos cada um. No conjunto, são 114 sinos, metade em cada torre. Foram construídos em Antuérpia, em 1730, e custaram a D. João V 3 milhões de cruzados.
O carrilhão data da Idade Média, época em que se começou aproveitar os sinos, em virtude da sua sonoridade penetrante, como instrumentos populares e públicos.
O processo a principio simples e rudimentar, foi-se aperfeiçoando. Em vez de martelo directamente, os sinos passaram a ser tangidos, indirectamente, por meio de teclados, cujas teclas, movidas pelos dedos e pelos pés, comunicavam com os martelos adaptados aos sinos.
Os carrilhões generalizaram-se, principalmente, na Bélgica, na Holanda e no Norte da França. Executam-se neles, actualmente, composições de musica religiosa e popular e até trechos de ópera.

Em Portugal, a indústria de relojoaria monumental, organizada, confina-se apenas a uma oficina, fundada em Almada, há dezenas de anos, por um verdadeiro artista.
A principio uma velha « tenda », veio a transformar-se numa oficina enorme e moderna, de onde saem verdadeiras maravilhas de relojoaria monumental musicada. Fundou-a e ainda a dirige o Sr. Manuel Francisco Cousinha, o responsável pelas obras de restauro e beneficiação dos carrilhões de Mafra, em concorrência com artistas estrangeiros – como acima dissemos.

Anda a biografia de Manuel Francisco Cousinha dispersa em publicações diversas, designadamente, em jornais locais da região de Arganil, que o viu nascer.

Os três mais importantes
carrilhões nacionais
 
 
 
ALGUNS CARRILHÕES
EM FRANÇA
 
 
CARRILÃO VIRTUAL